Ciclos da História Ocidental

22/02/2015 01:52

O fato é que estamos vivendo pela 3ª vez um ciclo que se repete há 3000 anos na história ocidental. Este ciclo foi descrito por Marc Sautet em sua obra “Um café para Sócrates” e, baseado neste autor, vou ampliar seu conceito, detalhar suas características e pormenores (baseado em observações e percepções a respeito da História) para que possamos compreender melhor.

Podemos dizer que o tal ciclo vivido na história ocidental é composto por 5 elementos: glória, trevas, renascimento, conflitos e renovação. Como eu disse há pouco, estamos vivendo este ciclo pela 3ª vez, então vou explicar de forma sintética as outras duas ocorrências do mesmo:

1º ciclo: A civilização da ilha de Creta (Grécia) havia despontado como uma das mais importantes do Mediterrâneo, porém foi destruída por invasores que vieram da Europa Central e deixaram a Grécia em um momentâneo estado de “trevas”, ou seja, sem destaque entre as civilizações de sua época e sem grande desenvolvimento político e econômico. Este período veio a acabar na medida em que um “renascimento” ocorria nas artes, na dinâmica social, na economia e na política, tendo seu maior expoente em Atenas. Este período renascentista foi sucedido por conflitos entre as cidades-estado gregas, o que fragilizou a Grécia e deu brecha para que fosse invadida por duas novas potências da Antiguidade: Macedônia (que conquistou a Grécia em 335 a.C.) e Roma (que conquistou a Grécia em 146 a.C.).

2º ciclo: A civilização romana começa a viver períodos de glória quando começa a formar seu império em torno do Mediterrâneo. No entanto, as forças germânicas minaram o Império Romano até o seu fim (século V d.C.), levando a Europa Ocidental a um momentâneo período de “trevas”, ou seja, de ruralização da economia e de enfraquecimento das instituições políticas. Este período vê seu desfecho na medida em que ocorre um renascimento no comércio, nas artes, nas formas de governo, no sistema econômico e até mesmo na religião, tendo as cidades italianas como um dos grandes expoentes. Ao período renascentista, seguiram-se séculos de conflitos religiosos, revoluções e guerras imperialistas, dando brecha para que a Europa fosse influenciada pelas duas potências que dominaram o mundo nos últimos séculos: Inglaterra e, posteriormente, Estados Unidos.

O 3º ciclo da história ocidental começa com a glória dos Estados Unidos e já mostra, atualmente, possíveis candidatos a minar o poderio norte-americano ou, no mínimo, tentar estabelecer um novo período de “trevas”. Ao contrário dos ciclos anteriores, onde os “invasores” eram grupos étnicos, hoje os tais candidatos podem ser grupos políticos, sociais ou religiosos, sem necessariamente estarem unidos por uma identidade étnica; os mais fortes destes candidatos, hoje, são o terrorismo e o fundamentalismo religioso. Estas duas forças tentam estabelecer um estado de trevas baseado no medo, na intolerância e na doutrinação forçada. O fundamentalismo religioso, na verdade, faz parte de um conjunto ligado ao fanatismo, que é uma “mancha” na História da humanidade. Neste contexto, o poderio norte-americano, que ainda é imenso e intenso, vê iniciar um processo de “rachaduras” com o advento de blocos ou países política e economicamente fortes, como a União Europeia e a China.

Uma característica comum aos períodos de “trevas” foi o aumento da ligação com a terra. Tanto no período de “trevas” dos gregos quanto após o fim do Império Romano do Ocidente, vemos a ruralização tornar a terra um objeto de identidade social e uma base econômica. Nos dias atuais, não há um processo de ruralização (pelo contrário, a maior parte da humanidade vive nas cidades), mas podemos perceber um relacionamento mais intenso com a terra no sentido de apego ao território, de nacionalismo e de lutas separatistas. Não é a toa que o século XX começou com apenas 51 países independentes e terminou com 201 (hoje em dia, são 203, além dos que estão lutando por independência ou que proclamaram independência, mas não são reconhecidos por todos ou pela maioria dos países independentes).

Com todo este contexto, podemos “apostar” no futuro renascimento como algo ligado à tecnologia, à informação e ao conhecimento. O rápido crescimento e evolução da tecnologia lança as bases para futuras descobertas e invenções que vão revolucionar a maneira do homem se relacionar consigo mesmo, com os outros seres humanos e com a natureza. E justamente a natureza é hoje objeto de intensas discussões sobre seus limites e as ações humanas sobre ela. Já podemos antever, por este prisma, conflitos em torno da posse e do uso da água, por exemplo.

É preciso muito mais discussão sobre o que podemos vislumbrar no futuro e o que queremos deixar para as próximas gerações, e neste sentido o passado serve de privilegiado e amplo espelho para a humanidade se contemplar e perceber seus atos, suas mentalidades e suas razões.

 

Licença Creative Commons
 

Pesquisar no site

Contato

Intimidade com a História