Idas e vindas na relação entre o aluno e o conhecimento

09/10/2015 14:33

Os tempos atuais têm sido de muitas informações disponíveis aos alunos de nossas escolas. Eles chegam a escola já tendo acesso a um mundo de informações que possibilitam saber de tudo o que se passa. No entanto, é também visível o cada vez maior desinteresse dos alunos pela escola, mesmo sendo esta um espaço privilegiado de interação com as informações para formar conhecimento. Na verdade, sobre isto devemos fazer algumas considerações.

A primeira delas está no caráter estrutural da escola. Sem exageros, é possível imaginarmos um professor do século XIX viajando no tempo e se sentindo razoavelmente a vontade em muitas das escolas atuais, do ponto de vista da estrutura escolar muito presa ao quadro, carteiras enfileiradas, uso de livros, entre outros aspectos. Enquanto nossos alunos acessam a internet e utilizam cada vez mais aparelhos eletrônicos para se comunicarem e terem acesso a informações, muitas escolas ainda seguem o tradicional esquema da aula expositiva com quadro e giz e presa a um manual didático, com o professor ora falando, ora tentando controlar os alunos para que fiquem disciplinados (ou “calados”, como quiserem). Para que este quadro se reverta, não é preciso nenhum ato revolucionário, mas o primeiro passo seria o professor passar a utilizar com mais frequência tecnologias que auxiliem na dinamização das aulas (claro que não podemos esconder que isto depende da disponibilização de tecnologias da parte dos sistemas de ensino, sejam eles públicos ou privados, afinal não se pode cobrar do professor algo que ele não possa fazer por não ter respaldo e suporte do sistema para o qual trabalha).

A segunda consideração tange a postura que muitas pessoas têm em relação ao conhecimento. É comum ouvir de alunos a seguinte pergunta: “Para que serve isto?” Esta questão mostra que o conhecimento é visto apenas por seu caráter utilitário e não como algo bom em si mesmo e que, mesmo não tendo aplicações práticas imediatas no cotidiano do aluno, vale como enriquecimento cultural e fator de auxílio em processos como raciocínio e desenvolvimento de pensamento crítico. O conhecimento visto apenas por seu lado utilitário imediato deve ser combatido pelos professores e substituído, aos poucos, por uma visão de conhecimento como agente de crescimento intelectual, pessoal e consciencial.

Outra consideração a ser feita é que não precisamos, enquanto professores, nos desgastar em argumentos longos e diversificados para convencer o aluno da importância do conhecimento. Já há 2000 anos, o filósofo romano Caio Musônio falava da desnecessidade de muitos argumentos para expor uma ideia ou convencer alguém de algo a ser atingido. Para ele, pessoas de mente aberta se convencem com poucos (mas suficientes) argumentos, enquanto pessoas de mente fechada não se convencem nem com inúmeros argumentos. No caso de jovens, Musônio propunha também que fossem educados a maneira espartana. Obviamente, nos tempos atuais não se aplicam mais os métodos de educação da antiga cidade de Esparta, mas ainda é imperativo que nossos alunos desenvolvam, desde a infância, a organização e a disciplina pessoais como formas de aprender o valor do conhecimento e do estudo. Em uma sociedade hedonista e imediatista, professores devem ser mediadores para que os alunos aprendam que o conhecimento é algo a ser valorizado por aquilo que ele mesmo é e que o conhecimento é adquirido através da interação com as informações disponíveis, dando-se isto através do estudo, que exige tempo, organização, disciplina pessoal, paciência e que não é prazeroso a todo tempo (pelo menos não como muitos alunos esperam que seja prazeroso, ou seja, “mastigado” e sempre de fácil entendimento).

Analisando as considerações feitas até agora, temos um panorama do que se pode, inicialmente, fazer para atenuar problemas nas escolas e despertar nos alunos o gosto pelo estudo: trazer cada vez mais as tecnologias modernas para dentro do espaço escolar e das práticas docentes; valorizar o conhecimento independente do seu caráter imediatamente utilitário; ajudar a construir hábitos de estudo com organização e disciplina pessoais.

Estes caminhos, e tantos outros que vêm sendo propostos por professores e pelos ditos “especialistas” em educação, devem sempre ser refletidos, pesados na balança da razão e questionados para que venham a oferecer respostas às necessidades da educação atual.

 

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