OPINIÃO - Cristãos, não tenhais medo!

29/06/2015 23:09

Foi com euforia e com gosto de vitória que os homossexuais do mundo inteiro acolheram a decisão da Suprema Corte dos EUA que legalizou a união homossexual em todo o território estadunidense. Ao mesmo tempo, grupos contrários a união homossexual também se manifestaram, o que é natural e aceitável em países democráticos que prezam pela liberdade de pensamento. Mas é também natural e imperioso que, em um país democrático que preza pela liberdade de pensamento, o Estado olhe as necessidades das minorias, o que implica sempre em desagradar algum grupo.

Tendo uma vida inteira de experiências dentro do cristianismo católico, não foram poucas as vezes que presenciei discursos contra a união homossexual tratando-a como “atentado a família”, “desobediência ao plano de Deus” e até mesmo “perseguição aos cristãos”. No entanto, justamente como cristão é que penso que não precisamos ter medo e não precisamos armar ferozes ataques para fazer coro àquilo que as instituições cristãs combatem. Na verdade, o que muitos cristãos de nosso país precisam entender é que estamos governados por um Estado laico que não pode e nem deve se dobrar às exigências de grupos religiosos, por mais que estes sejam maioria entre o povo. Sendo assim, o Estado brasileiro tem legitimidade para aprovar não só a união homossexual, mas também a pena de morte, a eutanásia, o aborto e outras tantas questões polêmicas. As instituições religiosas podem expor suas opiniões, mas não devem fazer disso uma tentativa de imposição de valores a quem não é seguidor de suas práticas religiosas.

Aliás, o Estado laico vivido mais profundamente é a melhor garantia de liberdade para todas as instituições religiosas, sejam cristãs ou não, bem como para todos os grupos de uma sociedade independente do aspecto sob o qual olharmos (religioso, político, social, etc). Por isso, é furado o argumento de líderes religiosos que falam que há uma campanha contra o cristianismo só porque o Estado reconheceu a união homossexual ou pode vir a reconhecer outras práticas que o cristianismo se posiciona contra. O Estado laico é a melhor garantia de liberdade religiosa porque não reproduz exemplos como a China (onde o Estado é declaradamente ateu) ou Arábia Saudita (onde o Estado é muçulmano), países onde as liberdades religiosas, políticas e sociais são tolhidas intensamente a favor de um determinado grupo dominante.

Por tudo isso, cristãos, não tenhais medo! A aprovação de quaisquer medidas ou práticas representa uma vitória para quem luta por elas, mas não é necessariamente uma derrota para quem é contrário a elas; tais aprovações nada mais são do que o funcionamento de uma situação democrática legítima que garante proteção e direitos a todos os envolvidos na sociedade (inclusive os grupos religiosos).

 

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