REFLEXÕES SOBRE TOLERÂNCIA

02/05/2020 21:44

Qual a origem da palavra?

Tolerância vem do latim tolerare, que significa “acolher”, “ser suporte”, “ser indulgente”[1]; ou ainda, significa “suportar”, “aceitar”[2].

 

Quais as possibilidades de uso da palavra “tolerância” ao longo da História?

Na Idade Média, Tomás de Aquino, teólogo italiano, associou a tolerância à paciência. Já nos séculos XVI e XVII, iniciou-se um discurso em torno da tolerância religiosa para sanar os conflitos entre católicos e protestantes. E no século XIX, havia, principalmente na França, as chamadas “casas de tolerância”, onde eram aceitos comportamentos sexuais que normalmente a sociedade em geral reprimia ou condenava. Na medicina, fala-se em tolerância ou intolerância para se referir à capacidade que o organismo tem de aceitar ou não os medicamentos, podendo estes levar à cura ou a reações adversas (até mesmo a morte)[3].

 

Que possibilidades de pensamento podemos ter em relação à tolerância?

Tomás de Aquino, no final da Idade Média, associava tolerância à paciência. No entanto, é preciso destacar que esta paciência não deve ser entendida como uma indiferença em relação ao que é imoral ou desobediente[4], mas como a capacidade de analisar e compreender o que vemos ao nosso redor no dia-a-dia.

No caso da tolerância em questões religiosas, chama-se a atenção para a necessidade de conhecimento daquilo que o outro pensa de diferente, sem necessariamente ter de deixar de lado as próprias convicções, visto que este movimento de conhecimento não é no sentido da conversão, mas do despertar de um senso de respeito pelo que o outro pensa e da superação de preconceitos e discriminações que afetam a convivência social. Sobre isto, a monja budista Coen Sensei destaca que “o pouco contato e o pouco conhecimento podem ser fontes de discriminação e desrespeito”[5]. Aliás, esta necessidade de contato e conhecimento pode ser valorizada não somente quanto a tolerância religiosa, mas a todas as situações que exigem tolerância (na política, na cultura, na vida social em geral, etc).

A tolerância é cada vez mais necessária em um mundo globalizado no qual pessoas do mundo todo se aproximam sempre mais. Em relação a 30 anos atrás, atualmente é muito mais fácil conhecer pessoas, culturas e pensamentos de outros lugares (mesmo os mais distantes), tornando essenciais as atitudes de tolerância para o bom convívio social e para que o mundo tenha uma dinâmica social mais saudável. Aqui, ainda é importante lembrar que valorizar a tolerância não significa deixar de lado as próprias convicções (quando estas não representam perigo ou ameaça à sociedade, como no caso dos fanatismos e extremismos). Um cristão católico, por exemplo, pode muito bem continuar com suas convicções religiosas e ao mesmo tempo exercer a tolerância em relação ao umbandista; ou ainda, um membro ou simpatizante de determinado partido político pode muito bem conviver pacificamente e exercer a tolerância em relação a outros que simpatizam com partidos de ideias opostas ou diferentes sem necessariamente ter de deixar de lado suas convicções políticas.

Peruzzo (2014) aborda de forma mais profunda os limites da tolerância quando religião e política se relacionam[6], fazendo com que a sociedade e o Estado devam pensar o caráter laico do Estado brasileiro e os limites que devem ser impostos para que os poderes Executivo, Judiciário e Legislativo não virem palcos de pregação ou imposição de doutrinas religiosas. Inclusive, o autor destaca que a tolerância religiosa e suas relações saudáveis e limitadas com o meio político são relevantes no sentido de garantir o respeito e a não-interferência do Estado nos assuntos religiosos e vice-versa, fazendo com que sejam protegidas, toleradas e garantidas todas as manifestações e opiniões religiosas, não-religiosas e ateístas.

Na série de textos que escrevi com o título “Utopias”[7], constantemente é destacada a importância de se ter atitudes tolerantes nas discussões políticas, para que sejam saudáveis, construtivas e realmente contribuam com o momento em que o nosso país está passando. No entanto, é notável a intolerância nos meios políticos e nas discussões populares, tendo nas redes sociais uma ferramenta de potencialização do que vem se tornando embates ao invés de debates.

É preciso resgatar, seja pela educação escolar ou por outras formas de educação (familiar, social, etc), o senso de tolerância tão necessário para que nossa sociedade possa caminhar com discernimento mais claro daquilo que deve ser o rumo do país e da civilização de uma forma geral, preservando valores e princípios que são importantes na manutenção e sustentação da vida social, mas aprendendo sempre mais também a respeitar aqueles que pensam e agem de formas diferentes em vários aspectos da vida (crenças e práticas religiosas, pensamentos e práticas políticas, etc).



[1] GEBARA, Ivone. As duas faces de uma mesma moeda: tolerância e intolerância. Disponível em: https://www.koinonia.org.br/tpdigital/detalhes.asp?cod_artigo=260&cod_boletim=14&tipo=Cr%C3%B4nica Acesso em: 22 nov.2016.

 

[2] Significado de tolerância. Disponível em: https://www.significados.com.br/tolerancia/ Acesso em: 22 nov.2016.

 

[3] Ver nota 1.

 

[4] TONET, Nvunda. Limites à tolerância. Disponível em: https://www.psicologia.pt/artigos/ver_opiniao.php?codigo=AOP0152 Acesso em: 22 nov.2016. Publicado em: 2008.

 

[5] SENSEI, Coen. Tolerância religiosa no Brasil. Disponível em: https://www.monjacoen.com.br/entrevistas/38-entrevistas/219-tolerancia-religiosa-no-brasil Acesso em: 22 nov.2016. Entrevista a Carolina Frossard.

 

[6] PERUZZO, Pedro Pulzatto. Política e religião: os limites da tolerância. Disponível em: https://justificando.com/2014/09/05/politica-e-religiao-os-limites-da-tolerancia/ Acesso em: 22 nov.2016. Publicado em: 05 set.2014.

 

Licença Creative Commons
 

Pesquisar no site

Contato

Intimidade com a História