Trabalho com mitos - parte 2

15/07/2015 00:55

Em um trabalho com mitos, é muito importante definir junto aos alunos o conceito de mito, e definir isto de maneira profunda, mostrando como o mito foi pensado ao longo da História e apontando o mito como algo que não pode ser simplesmente reduzido às qualidades de “verdade” ou “mentira”. Em um primeiro momento, portanto, o professor pode analisar com os alunos a definição de mito a fim de que possam todos desenvolver melhor os passos seguintes. Esta definição do conceito também se faz necessária para que, a posteriori, não haja maiores problemas quanto a diversidade dos alunos. Sabemos que nosso país é diverso em manifestações religiosas e que nem todos são tolerantes ou respeitosos com aqueles que creem ou pensam diferente.

O trabalho com mitos pode envolver as áreas de Língua Portuguesa e de Arte em um segundo momento, quando o professor pode trazer mitos de vários povos a fim de que os alunos os leiam e desenvolvam atividades sobre eles, como interpretações de texto, desenhos, pinturas, colagens, montagens, intertextualidades, etc. O importante neste momento é que o aluno se familiarize com os mitos, percebendo neles como vários povos explicam o mundo e seus fenômenos.

O próximo passo é identificar aspectos que podem contribuir para a construção dos mitos: um acidente geográfico, a presença de uma espécie animal ou vegetal de grande importância para o povo, uma característica da paisagem a qual o povo está acostumado, etc. Estes aspectos são importantíssimos para a construção dos mitos. No caso hebreu, por exemplo, podemos ver o mito do Paraíso após a criação, onde os hebreus, povo habituado aos desertos, colocam um oásis como lugar de perfeição e de plena relação com a divindade. Ou ainda, podemos ver as várias mitologias indígenas brasileiras tendo por personagens animais como onças, pássaros e cobras.

Discutida a definição de mito, lidos e trabalhados alguns mitos e percebidos seus aspectos componentes, o professor pode levar os alunos a pensarem sobre pontos em comum entre os mitos. Por exemplo: os mitos de criação tupi-guarani, asteca, navajo e persa associam o Sol à divindade (o Sol como um deus ou como parte dele); já os mitos hebreu e grego falam do caos antes do processo criador. Estes aspectos comuns aos mitos são importantes para pensarmos se eles não seriam heranças de uma consciência mítica comum.

Sabemos por evidências arqueológicas que o ser humano se originou no continente africano e dali se espalhou pelo resto do mundo; por que não pensarmos que as explicações dos primeiros homens para os fenômenos do mundo acabaram migrando junto com eles e aos poucos ganharam contornos próprios de cada povo na medida em que as etnias se distanciavam da África e até mesmo se isolavam? É possível até mesmo exemplificar este questionamento com o mito do dilúvio, que aparece em várias mitologias (hebreia, grega, hindu, chinesa, maia, quíchua, chibcha, suméria, etc) e que poderia ser resultado de um único mito diluviano original que teria ganhado características mais específicas dependendo do povo que o contava e na medida em que estes povos se distanciavam uns dos outros ao longo de dezenas de milhares de anos.

O processo avaliativo de todos estes trabalhos e discussões é algo a ser feito ao longo de todo o projeto sobre mitos. Nas discussões, nas atividades escritas, nas leituras, enfim, em todos os momentos o professor deve avaliar a participação dos alunos, seu interesse, suas contribuições para as discussões, entre outros aspectos.

 

Áreas do conhecimento que podem auxiliar o professor de História:

Primeiro momento (definição de mito): Filosofia, Ensino Religioso e Sociologia.

Segundo momento (leitura de mitos e atividades a respeito): Língua Portuguesa e Arte.

Terceiro momento (aspectos que ajudam a construir o mito): Geografia e Biologia.

Quarto momento (pontos em comum nos mitos): Filosofia e Geografia.

 

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