XIV Semana de História da UFSJ
Caros amigos leitores, segue abaixo um resumo do que pude acompanhar na XIV Semana de História da Universidade Federal de São João Del Rei, de 26 a 29 de outubro de 2015. Espero que o texto possa ser um pontapé para pesquisas mais profundas da parte de quem se interessar por algum ponto exposto no evento.
Conferência de abertura
O lugar da História nos currículos contemporâneos – Profª Drª Circe Bittencourt
A atual discussão sobre o currículo escolar e o papel da História dentro dele mostra que a História é problemática, e isto podemos ver no contexto do ensino desta disciplina nas escolas brasileiras.
A História faz parte do currículo das escolas desde o século XIX. Nesta época, a disciplina era dividida em três áreas: História Sagrada (pendendo para o relato bíblico), História Universal (que hoje conhecemos por História Geral) e História do Brasil. No entanto, ao longo do referido século não havia cursos de formação para docentes na área de História, ficando o exercício da docência nesta disciplina a cargo de professores com outros níveis de formação. Somente em 1938, na recém-criada Universidade de São Paulo (USP), é que se abre o primeiro curso superior de História do Brasil para formação de professores na área.
Durante muito tempo, o ensino de História girava em torno do Estado e de seu papel na formação da identidade nacional. Estudavam-se os grandes heróis nacionais, grandes feitos heroicos e grandes fatos da História nacional.
A ditadura militar no Brasil deu força a um ensino bastante influenciado pela iniciativa empresarial. Os materiais didáticos utilizados nas escolas e a própria formação dos professores ficam cada vez mais subordinadas a influência e aos interesses de empresas que lucravam em cima da educação. Assim, o currículo (em especial o de História) entra em uma tensão, dividida entre o capitalismo próprio das empresas que passam a controlar o meio educacional e o socialismo defendido por historiadores. O capitalismo empresarial sobressai durante o período militar e a História passa a ser ensinada, através dos materiais didáticos, sob os pontos de vista do capitalismo, do tecnicismo, do patriotismo e do liberalismo.
Com o fim da ditadura militar, várias propostas se conflitam para modelar o ensino de História: qual História voltaria à escola? A social? A política? A econômica? E neste debate a História social acaba ganhando mais terreno e se sobressaindo aos demais enfoques históricos. Neste contexto, as leis federais 10639/2003 e 11645/2008 vêm “frear” o ensino de uma História eurocêntrica ao valorizar o ensino da história e da cultura indígena e africana nas escolas. Inclusive, há entre muitos historiadores e especialistas em História da Educação a tendência de valorizar nas escolas o ensino de uma “História Antiga” brasileira (do início do povoamento do Brasil até a chegada dos portugueses).
Atualmente, reações a esta História social vêm se concretizando através de iniciativas como a do governo do estado de São Paulo, que tirou a História das séries iniciais do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano; ensina-se apenas Português, Matemática, Educação Física e Artes), e também através de projetos de lei como o PL 867/2015 (apelidado de “Escola Sem Partido”), que pretende impor aos professores um ensino de História sem política.
Mesa redonda
PIBID – Prof. Orlando
O PIBID é um programa para iniciação científica de universitários, criado no governo Lula em 2007. No entanto, em 2015 o programa sofreu vários cortes, dentro do contexto da crise que afeta o Brasil. E para que o programa não seja extinto por falta de verbas ou por quaisquer outros motivos, é consenso nos meios acadêmicos que o PIBID deixe de ser uma “política de governo” para ser uma “política de Estado”, dado a sua importância na formação prática dos profissionais, em especial os dos cursos de licenciatura. Porém, este consenso acaba recebendo “jatos” de desânimo quando se percebe, no contexto geral, como a educação é tratada no Brasil; só para exemplificar este cenário, apenas em 2015 o país teve três ministros da Educação, sendo que nenhum deles teve ligações mais profundas com o meio educacional (o atual ministro, Aloísio Mercadante, sequer teve alguma experiência com docência e militância em Educação).
Mesa redonda
Idade Média – Prof. Maurício Carrara
A intenção da mesa redonda seria discutir as contribuições mútuas entre a História e a Filosofia nos estudos medievais. É muito importante ao historiador e ao filósofo a superação do caráter descritivo dos estudos para se chegar a um caráter explicativo, isto é, que o estudioso não só descreva o objeto de estudo (o que fez, o que falou, onde viveu, etc.), mas também explique contextualizando o momento estudado e oferecendo um olhar a respeito de como as pessoas daquela época receberam as ideias e fatos sobre os quais agora o estudioso se debruça.
Oficina de Paleografia
Coordenação: Profª Juliana Soares Resende dos Santos
A paleografia se debruça sobre documentos antigos para facilitar ao historiador o entendimento destes documentos. Para entender um documento antigo, cabe ao historiador cercar-se de vários conhecimentos da época no qual o documento foi produzido. Se, por exemplo, o historiador trata com documentos oficiais, é necessário o conhecimento da máquina administrativa, ou seja, os termos e nomenclaturas oficiais utilizados em cada época, em cada órgão produtor e arquivador dos documentos estudados. Assim, o historiador precisaria se cercar de conhecimentos sobre termos jurídicos, políticos, econômicos, etc, dependendo daquilo que ele está estudando.
Outra exigência a um historiador que trata com documentos antigos é a paciência, isto é, que leia várias vezes o documento para se familiarizar com sua linguagem, sua caligrafia, sua estrutura, enfim, com tudo o que o documento tem de particular e que pode fazer a diferença na análise por parte do historiador.