XIV Semana de História da UFSJ

07/11/2015 19:20

Caros amigos leitores, segue abaixo um resumo do que pude acompanhar na XIV Semana de História da Universidade Federal de São João Del Rei, de 26 a 29 de outubro de 2015. Espero que o texto possa ser um pontapé para pesquisas mais profundas da parte de quem se interessar por algum ponto exposto no evento.

 

Conferência de abertura

O lugar da História nos currículos contemporâneos – Profª Drª Circe Bittencourt

A atual discussão sobre o currículo escolar e o papel da História dentro dele mostra que a História é problemática, e isto podemos ver no contexto do ensino desta disciplina nas escolas brasileiras.

A História faz parte do currículo das escolas desde o século XIX. Nesta época, a disciplina era dividida em três áreas: História Sagrada (pendendo para o relato bíblico), História Universal (que hoje conhecemos por História Geral) e História do Brasil. No entanto, ao longo do referido século não havia cursos de formação para docentes na área de História, ficando o exercício da docência nesta disciplina a cargo de professores com outros níveis de formação. Somente em 1938, na recém-criada Universidade de São Paulo (USP), é que se abre o primeiro curso superior de História do Brasil para formação de professores na área.

Durante muito tempo, o ensino de História girava em torno do Estado e de seu papel na formação da identidade nacional. Estudavam-se os grandes heróis nacionais, grandes feitos heroicos e grandes fatos da História nacional.

A ditadura militar no Brasil deu força a um ensino bastante influenciado pela iniciativa empresarial. Os materiais didáticos utilizados nas escolas e a própria formação dos professores ficam cada vez mais subordinadas a influência e aos interesses de empresas que lucravam em cima da educação. Assim, o currículo (em especial o de História) entra em uma tensão, dividida entre o capitalismo próprio das empresas que passam a controlar o meio educacional e o socialismo defendido por historiadores. O capitalismo empresarial sobressai durante o período militar e a História passa a ser ensinada, através dos materiais didáticos, sob os pontos de vista do capitalismo, do tecnicismo, do patriotismo e do liberalismo.

Com o fim da ditadura militar, várias propostas se conflitam para modelar o ensino de História: qual História voltaria à escola? A social? A política? A econômica? E neste debate a História social acaba ganhando mais terreno e se sobressaindo aos demais enfoques históricos. Neste contexto, as leis federais 10639/2003 e 11645/2008 vêm “frear” o ensino de uma História eurocêntrica ao valorizar o ensino da história e da cultura indígena e africana nas escolas. Inclusive, há entre muitos historiadores e especialistas em História da Educação a tendência de valorizar nas escolas o ensino de uma “História Antiga” brasileira (do início do povoamento do Brasil até a chegada dos portugueses).

Atualmente, reações a esta História social vêm se concretizando através de iniciativas como a do governo do estado de São Paulo, que tirou a História das séries iniciais do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano; ensina-se apenas Português, Matemática, Educação Física e Artes), e também através de projetos de lei como o PL 867/2015 (apelidado de “Escola Sem Partido”), que pretende impor aos professores um ensino de História sem política.

 

Mesa redonda

PIBID – Prof. Orlando

O PIBID é um programa para iniciação científica de universitários, criado no governo Lula em 2007. No entanto, em 2015 o programa sofreu vários cortes, dentro do contexto da crise que afeta o Brasil. E para que o programa não seja extinto por falta de verbas ou por quaisquer outros motivos, é consenso nos meios acadêmicos que o PIBID deixe de ser uma “política de governo” para ser uma “política de Estado”, dado a sua importância na formação prática dos profissionais, em especial os dos cursos de licenciatura. Porém, este consenso acaba recebendo “jatos” de desânimo quando se percebe, no contexto geral, como a educação é tratada no Brasil; só para exemplificar este cenário, apenas em 2015 o país teve três ministros da Educação, sendo que nenhum deles teve ligações mais profundas com o meio educacional (o atual ministro, Aloísio Mercadante, sequer teve alguma experiência com docência e militância em Educação).

 

Mesa redonda

Idade Média – Prof. Maurício Carrara

A intenção da mesa redonda seria discutir as contribuições mútuas entre a História e a Filosofia nos estudos medievais. É muito importante ao historiador e ao filósofo a superação do caráter descritivo dos estudos para se chegar a um caráter explicativo, isto é, que o estudioso não só descreva o objeto de estudo (o que fez, o que falou, onde viveu, etc.), mas também explique contextualizando o momento estudado e oferecendo um olhar a respeito de como as pessoas daquela época receberam as ideias e fatos sobre os quais agora o estudioso se debruça.

 

Oficina de Paleografia

Coordenação: Profª Juliana Soares Resende dos Santos

A paleografia se debruça sobre documentos antigos para facilitar ao historiador o entendimento destes documentos. Para entender um documento antigo, cabe ao historiador cercar-se de vários conhecimentos da época no qual o documento foi produzido. Se, por exemplo, o historiador trata com documentos oficiais, é necessário o conhecimento da máquina administrativa, ou seja, os termos e nomenclaturas oficiais utilizados em cada época, em cada órgão produtor e arquivador dos documentos estudados. Assim, o historiador precisaria se cercar de conhecimentos sobre termos jurídicos, políticos, econômicos, etc, dependendo daquilo que ele está estudando.

Outra exigência a um historiador que trata com documentos antigos é a paciência, isto é, que leia várias vezes o documento para se familiarizar com sua linguagem, sua caligrafia, sua estrutura, enfim, com tudo o que o documento tem de particular e que pode fazer a diferença na análise por parte do historiador.

 

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