XVII Semana de História - UFSJ - 1º dia

30/10/2018 12:45

CONFERÊNCIA: “O tempo presente no Ensino de História: Desafios e potencialidades” – Profª Drª Yara Alvim (UFJF)

 

Pontos mais importantes:

 

- A abordagem do tempo presente no ensino de História é um desafio a todos os professores, pois, entre outros fatores, gera insegurança (afinal, ainda estamos vivendo este tempo).

- Dentro disto, temos também várias possibilidades que vão além do presente, considerando, por exemplo, o caos instalado com divisões sociais e políticas: o que será o nosso futuro? Ou ainda, o que será o futuro para os futuros professores de História?

- Considerando que “O tempo é uma invenção social” (Norbert Elias), partimos da ideia de que há muitos tempos presentes, podendo destacar o imediato e também um “tempo presente” relacionado a conjuntura vivida pelo Brasil nos últimos anos (desde as jornadas de junho de 2013 ou desde o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016).

- Precisamos, como professores, atentar para o fato de que cada pessoa sente o momento presente de uma forma distinta: há aqueles que sentem o presente como um caos, aqueles que o sentem como um restabelecimento da ordem e aqueles que são indiferentes. Isto vale aos nossos alunos, que sentem o tempo de formas distintas e cujos professores precisam tratar isto da melhor forma, respeitando as percepções dos alunos.

- Na pesquisa sobre o ensino de História, o professor tem ferramentas capazes de fazer entender o tempo presente e assim relacionar-se melhor com os alunos e suas percepções. Isto deve partir da consideração de que a aula de História sempre acontece no momento presente (escala imediata de tempo) e este presente “atropela” o professor em qualquer conteúdo ensinado – podemos ver isto, por exemplo, na constante necessidade de analogias ou “pontes” entre passado e presente, quando o professor busca na realidade do aluno e nos acontecimentos presentes as comparações que o farão entender o passado.

- Como dar uma aula sem ser chamado de “doutrinador” ou ser confrontado por alunos e pais? Um dos caminhos é considerar as percepções de cada aluno a respeito do tempo e, ao mesmo tempo, mostrar que existem outras possibilidades de pensamento que vão além da realidade do aluno.

- Em geral, há um processo de desestabilização da identidade profissional, com propostas diversas que exigem uma impossível “neutralidade” do professor. Como ser neutro, por exemplo, diante de temas ou situações que ameaçam a dignidade humana?

- O presente é o filtro pelo qual os alunos leem o passado e entendem a História, por isso o professor deve estar atento e acompanhar os discursos que são construídos atualmente e que vão se refletir nos discursos dos alunos em sala de aula (inclusive discursos revisionistas e relativistas, como a negação de que houve ditadura militar no Brasil). Este universo discursivo extraescolar vem sendo cada vez mais ocupado por narrativas através das mídias sociais, produções de notícias rápidas e pelo perigoso crescimento das “fakenews”.

- Existe, hoje, uma necessidade de se restabelecer ao professor a sua autoridade pedagógica. Esta restituição tem no próprio professor um caminho de construção, quando o professor resiste a desestabilização de sua identidade profissional através das chamadas “calma cognitiva” e “calma pedagógica”.

- A “calma cognitiva” se caracteriza quando o professor toma o tempo presente como uma categoria de pensamento e trata o presente como um objeto de estudo científico, levando o aluno a também se distanciar do objeto de estudo para percebê-lo melhor, analisa-lo e fixar fios de explicação que vão além do “senso comum”.

- A “calma pedagógica” se caracteriza por ouvir os alunos, dar-lhes voz, dar voz a suas significações do presente, ler e questionar as narrativas reproduzidas em sala de aula, provocar os alunos à “calma cognitiva” (ou seja, tirar o aluno de seu confortável mundo de notícias rasas e rápidas).

- Este movimento de leitura e questionamento das narrativas ocorre no ofício do historiador ao comparar as narrativas dos alunos com outras narrativas, atitude que o professor deve fazer em sala de aula, confrontando pontos de vista e transformando “verdades inquestionáveis” em “discursos questionáveis”.

- A construção da identidade profissional se dá, hoje, em meio a disputas de poder e a pressões diversas. No entanto, ler o presente deve projetar, no professor, expectativas para o futuro que carreguem consigo a ESPERANÇA (a partir do verbo “esperançar” e não só de “esperar”).

 

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