XVII Semana de história - UFSJ - 2º dia (1ª parte)

31/10/2018 10:26

APRESENTAÇÕES DE PESQUISAS – EIXO “RELAÇÕES DE PODER”

 

1ª apresentação: “Inês Piacesi e o Rubicon” – Everton Pimenta

 

- A apresentação foi sobre a divulgação do Integralismo, na década de 1930, em Barbacena/MG, através das ações de Inês Piacesi e seu jornal “Rubicon”.

- O Integralismo atuou legalmente entre 1932 e 1937, tendo como líderes Plínio Salgado, Gustavo Barroso e Miguel Reale, cujo lema era “Deus, Pátria e Família”. Havia um culto a Plínio Salgado dentro do movimento (como modelo de líder) e os membros se identificavam pela Sigma (letra grega) e pela saudação Anauê. Nestes anos de legalidade, o Integralismo, aos poucos, passa de movimento para partido político, tendo uma relação ambígua com Getúlio Vargas, ora contrários, ora favoráveis, embora ambos os lados tivessem um inimigo em comum: o Partido Comunista Brasileiro. O Integralismo chegou a ter 250 mil membros e teve uma imprensa presente em todo o país através de 138 jornais e revistas, como o “Monitor Integralista” (um “diário oficial” da Aliança Integralista Brasileira), a revista “Brasil Feminino” (que normatizava as ações das mulheres, inclusive suas posturas dentro de casa) e a revista “Anauê” (variedades).

- Em Barbacena, o precursor do Integralismo foi Humberto Caetano, ligado ao núcleo italiano da cidade. A maioria dos italianos de Barbacena, naquele momento, simpatizava com o fascismo de Benito Mussolini.

- Neste cenário, se levanta Inês Piacesi, italiana, cujo marido aderira ao fascismo em 1923. Piacesi tinha uma ampla vida social e intelectual, criando o jornal Rubicon e utilizando o cinema de Barbacena (que era sua propriedade) para divulgar o Integralismo e doutrinar a população local. No jornal Rubicon, Piacesi expunha os pensamentos integralistas e convidava outros escritores para também divulgar. Além disso, Piacesi escrevia em outros periódicos, utilizando pseudônimos.

- Quando o Integralismo é declarado ilegal pelo presidente Getúlio Vargas, em 1937, Piacesi se aproxima de Vargas e chega a declarar que este era o “Duce brasileiro” (uma referência ao Duce italiano, Benito Mussolini).

- No entanto, Piacesi foi monitorada pelo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) e acusada de “doutrinação integralista” nas escolas (ela era professora), principalmente após os integralistas terem tentado dois golpes de Estado em 1938 (março e maio) e serem igualados aos comunistas quanto ao grau de periculosidade (do ponto de vista do governo varguista).

 

2ª apresentação: Elimar Santo – apresentação sobre um processo ocorrido em Baependi e os discursos em torno de uma “mulher honesta”

 

- Em 1878, na localidade de Águas de Caxambu (então pertencente a Baependi), houve um crime cujas vítimas foram Maria Luciana, Luciana Maria e Antônio Custódio. Os três foram abordados por três homens, que deixaram Luciana Maria fugir, seguraram Antônio Custódio e estupraram Maria Luciana.

- O caso foi levado a justiça e Maria Luciana, então, teve a tarefa de provar que ela era uma mulher honesta e, por isso, resistiu com todas as forças aos dois estupradores (o terceiro criminoso estava segurando Antônio Custódio).

- A defesa de Maria Luciana argumentou que ela era uma mulher recatada, dedicada ao lar (embora a própria vítima tenha dito, em depoimento, que trabalhava como oleira, o que contraria a visão da época segundo a qual mulher honesta deveria ficar em casa cuidando do marido e dos filhos). Era preciso aparentar e destacar estes valores no discurso e frisar a resistência, mesmo quando violentamente agredida (era o que a sociedade esperava de mulheres honestas).

- A defesa dos réus argumentou que Maria Luciana era desonesta, ou seja, se entregava a vários homens (inclusive escravos). Uma testemunha a favor dos réus chegou a dizer que Maria Luciana era desonesta porque andava a cavalo com as pernas abertas. Foram muitas as tentativas para deslegitimar a honestidade da vítima e gerar desconfiança para que o juiz cresse que ela não resistiu aos criminosos.

- O réu que “apenas” segurou Antônio Custódio foi inocentado, mas os estupradores foram condenados. Os ataques a honra da vítima eram tentativas de, pelo menos, amenizar a pena, pois a legislação brasileira tratava estupros com penas diferentes: se a mulher fosse considerada “honesta”, a pena dos estupradores era maior; se a mulher fosse considerada “desonesta” (prostituta, por exemplo), a pena dos estupradores era bem menor.

 

3ª apresentação: “A atuação política dos clérigos vista pelos periódicos de São João Del Rei no fim do Primeiro Reinado e Regência” – Júlia Lopes

 

- A pesquisa abrange o período de 1829 a 1837, para entender como a imprensa noticiava e enxergava a atuação dos padres de São João Del Rei no período.

- O clero era muito presente na vida da população sanjoanense, muitas vezes acumulando papéis de padre, professor e político. A busca pela educação e pela política como formas de atuação estava ligada, entre outros fatores, às baixas côngruas (salários) que os padres recebiam do governo imperial.

- Era uma época na qual o Estado chegava mais diretamente às pessoas através da Igreja, com a utilização, por exemplo, dos espaços religiosos católicos para a realização de eleições ou de reuniões dos eleitores.

- Os padres, nesta época, eram responsáveis por fazer as listas de eleitores, seguindo os critérios estabelecidos por lei para definir quem poderia votar e quem não. No entanto, havia casos em que padres manipulavam as listas, colocando ou tirando pessoas conforme suas próprias preferências políticas.

- Além disso, os padres também influenciavam nos púlpitos, utilizando os sermões para promover um candidato ou grupo político. Isto era feito, por exemplo, quando tradicionalmente havia missas antes das eleições.

- Neste contexto, os periódicos sanjoanenses brigavam entre elogios ou críticas a padres ligados aos grupos políticos locais.

- O padre José Luís Custódio, que chegara a São João Del Rei em 1824, era visto pelos jornais sanjoanenses como elemento de discórdia. Ele próprio escrevia para os jornais “Amigo da Verdade” e “A ordem”, mas era constantemente atacado pelos liberais moderados que dominavam a política sanjoanense (os liberais acusavam o padre de “absolutista”, “terror desta freguesia”, etc). O padre Custódio, por outro lado, continuava divulgando suas ideias, inclusive exaltando o imperador Dom Pedro I como membro da família Bragança, o que era provocativo em uma época na qual muitos políticos criticavam Dom Pedro I justamente por suas preocupações em relação ao trono português (ocupados Bragança, da qual Dom Pedro era parte).

- Outros padres vieram a se destacar no cenário político neste mesmo período, mas pelo lado dos liberais moderados, como o padre Antônio Marin.

 

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