XXIX Simpósio Nacional de História - parte 2

16/08/2017 18:33

Nesta parte, serão divulgadas minhas anotações feitas nas conferências e diálogos contemporâneos realizadas no Simpósio.

 

24 de julho

1. Conferência de abertura

"Os desafios da ANPUH frente a crise brasileira: a luta pela preservação da democracia e contra os preconceitos"

Maria Helena Capelato (presidente da ANPUH e professora na USP)

 

- A ANPUH, no contexto brasileiro atual, tem por funções e atribuições: defesa da História na escola e na academia, defesa das minorias, combate a preconceitos, combate a ideologias nocivas a educação, entre outras.

- Sobre os desafios dos historiadores ante o contexto histórico brasileiro atual, é preciso ressaltar que os intelectuais devem levantar publicamente questões pertinentes ao contexto e não podem se deixar intimidar ou ser cooptados por partidos / grupos políticos, pois assim o historiador conseguirá atuar contra injustiças e defendendo valores como democracia, liberdade, fraternidade, etc.

- Em Norbert Bobbio, temos o conceito de democracia como o sistema no qual o povo participa das decisões e busca equilíbrio entre liberdade e justiça.

- Historicamente, vemos no Brasil a Nova República ser iniciada com o governo Sarney, uma personificação das oligarquias brasileiras, o que não nos impede de valorizar, no contexto de seu governo, a Constituição de 1988.

- A partir de então, vemos que a essência da democracia é a dinâmica, sua capacidade de transformações.

- A Constituição de 1988 abriu vários direitos que, aos poucos, geraram conflitos e questionamentos nas instituições democráticas, fazendo-nos sempre repensar e reinventar a democracia no Brasil, ainda mais quando há o perigo do ódio e da intolerância se disseminando na sociedade.

- Tolerância se garante em uma democracia de fato, em um Estado de direito e em uma sociedade que ensina e aprende a tolerância e o respeito tendo o pluralismo como realidade.

- A relação do homem com seus semelhantes é sempre algo conflitante (isto é aprofundado por Todorov), não bastando apenas convencer os indivíduos sobre os males da violência, mas também tendo de usar o Direito para coibir os indivíduos.

- Hoje, vemos sempre mais crescente o ódio nas redes sociais, seja através de notícias falsas, da busca por "bodes expiatórios", entre outros expedientes.

- Estamos repletos, atualmente, de fatos intoleráveis: água fria em mendigos (São Paulo), massacres de trabalhadores rurais, crise no Rio de Janeiro que atinge a população por conta da classe política que dilapida o dinheiro público, Brasil como responsável por 10% dos homicídios ocorridos no mundo, Bolsonaro com suas falas e "homenagens", entre outros.

 

25 de julho:

2. Diálogos Contemporâneos

"O século XIX revisitado: fontes, método e historiografia"

Coordenação: Profª Neuma Brilhante (UnB)

 

1ª explanação: Prof. Carlos Eduardo França de Oliveira (USP)

- O professor pesquisa o debate da imprensa periódica no século XIX em Minas, São Paulo e Rio, pensando a formação do Estado nacional brasileiro e focando o Primeiro Reinado (1822-1831), com a intenção de mapear a ascensão de políticos paulistas e mineiros no contexto da formação do Estado brasileiro (visto que Minas e São Paulo apoiaram mais intensamente o projeto político imperial).

- A pesquisa segue pensando a história do Império sob o prisma das províncias, resgatando a importância dos grupos provinciais na construção do Império (o que coloca MG e SP como centro do Império, junto com o Rio). Esta visão reflete uma mudança no modo de se estudar e enxergar o período, considerando a característica do "ser historiador" como trabalho/ofício, ou seja, que se proletariza deixando a antiga realidade dos historiadores "bem nascidos".

- Políticos paulistas e mineiros vão aos poucos se inserindo nas esferas de poder e nos cargos no Rio de Janeiro, especialmente a partir de sua projeção nos conselhos provinciais.

- O presidente da província era indicado pelo imperador, mas os conselhos provinciais eram compostos por homens eleitos pelos grupos dominantes das províncias, podendo ter em seus quadros opositores ao governo imperial (o que servia de contrapeso ao poder do presidente da província).

- Estas oposições garantiam, no Primeiro Reinado e na Regência, que não havia pleno controle eleitoral da parte do governo central.

- "A política provincial é fim e meio ao mesmo tempo", ou seja, quem transitava entre os poderes central e provincial utilizava as demandas provinciais de acordo com as circunstâncias do poder em que se estava a transitar.

 

2ª explanação: Profª Ana Paula Sampaio Caldeira (UFMG)

Tese "O bibliotecário perfeito: o historiador Ramiz Galvão na Biblioteca Nacional (1870-1882)"

- Na administração de Benjamin Franklin Ramiz Galvão a frente da Biblioteca Nacional (BN), iniciou-se a divulgação dos anais da instituição e a projeção internacional da mesma.

- Ramiz Galvão coloca a BN a serviço da intelectualidade brasileira, dialogando entre a tradição (guardar a memória do Brasil) e a inovação (produzir conhecimento).

- Ramiz Galvão é considerado "patrono dos bibliotecários", sendo mais conhecido entre estes do que entre os historiadores.

- Apesar de suas produções no mundo letrado, ganha mais notoriedade pela influência e pelos contatos com instituições.

 

26 de julho

3. Conferência

“As revoluções russas – controvérsias e legados”

Prof. Daniel Aarão Reis (UFF)

 

Observação: Constam anotações a partir do momento em que cheguei à Conferência (não acompanhei seu início).

 

- Nas eleições de 1917 na Rússia, houve a tentativa de proibir candidatos liberais.

- A Rússia teve grandes perdas com a 1ª Guerra Mundial: o Tratado de Brest-Litovski impôs uma “derrota” aos revolucionários. Lênin, ao aceitar os termos do tratado, gera um racha entre os bolcheviques, o que desencadeou tensões que ajudaram a culminar na guerra civil (que contou, inclusive, com atentados contra Lênin).

- Na guerra civil, há de se destacar o papel do chamado Exército Negro (anarquistas ucranianos), que apoiaram os “vermelhos” contra os “brancos” no conflito, mas depois são perseguidos pelos “vermelhos” quando se recusam a baixar armas.

- Stalin define que os povos não-russos só teriam independência com permissão dos comitês proletários (organizações soviéticas urbanas), normalmente com maioria de russos em sua composição.

- Tal decisão de Stalin gera divergências entre aqueles que preferiam se manter unidos a Rússia e os que queriam se separar. Com pressão da Alemanha, a Rússia cede a independência para a Finlândia, a Polônia e os países bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia).

- As guerras civis na Rússia (1918-1921) diminuem o caráter democrático dos revolucionários e fazem da Rússia um país mais fortemente dominado pelas diretrizes do governo revolucionário.

- A vitória do Exército Vermelho sobre a Revolução de Kronstadt (1921) consolida a Revolução Russa, que se expressa, a partir de então, em uma estrutura militarizada (até mesmo nos trajes dos bolcheviques), com a centralização no Partido Comunista.

- Para entender melhor o que ocorreu em outubro de 1917, é preciso analisar as guerras civis que se seguiram.

 

Questionamentos surgidos para reflexão:

- Considerando o que ocorreu com o partido e os revolucionários após as guerras civis (militarização, centralização, rigidez na estrutura política ditatorial), a revolução já não teria sua derrota em 1921?

- Que desafios existem para se evitar uma reconstrução histórica que destaque excessivamente a revolução de fevereiro de 1917 em detrimento da revolução de outubro do mesmo ano?

 

 

 

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